Depois de desafiados a realizar um mural dedicado a Maria Barreira (1914-2010), começámos por pesquisar sobre esta escultora, analisando catálogos da sua obra e lendo algumas entrevistas.
Como o museu do Bombarral estava fechado para obras, visitámos o do Neorrealismo para ver 3 esculturas ao vivo e tivemos o privilégio de nos mostrarem desenhos originais da artista que fazem parte do espólio do museu (ainda não tratado e exposto ao público). Como nos explicou a professora Paula Rito por estes desenhos entendemos o modo de pensar o corpo embora se perceba pelas suas entrevistas que a escultora desenhava sobretudo com o barro - “Primeiro o barro, depois os outros materiais”.
No livro “Mulheres escultoras em Portugal” e na apresentação – “Escultoras: do barro à pedra” –, fala-se das dificuldades de afirmação feminina nesta arte. Raquel Henriques da Silva escreve sobre Maria Barreira como uma escultora modernista, que concilia diferentes contributos, em sínteses ecléticas. No seu trabalho a figura feminina é o tema central, refletindo o seu envolvimento em diversas ações de defesa dos direitos da Mulher.
No final desta primeira etapa de pesquisa cada um tentou desenhar uma composição de mural por sugestão do visto e do lido.
Na segunda etapa selecionamos os desenhos, na tentativa de interligarmos os contributos individuais, escolhendo tonalidades de cor de barro, e criámos a composição coletiva.
Na terceira, ampliámos os desenhos da composição para a parede ponderando a área a intervir. Quando fomos ver a parede, não degradada, à saída da mata, com pouca altura e de um branco limpo decidimos que teríamos de fazer uma intervenção discreta e de pequenas dimensões.
Na quarta e última etapa, à medida que a pintura crescia semanalmente, fomos pensando e realizando alguns ajustes na composição.
Esperamos assim homenagear e chamar a atenção para o trabalho desta autora que pode ser visto no Museu Municipal do Bombarral.
Os alunos do 12ºAno de Artes.
Bombarral, Maio de 2024
Ângelo Santos | Catarina Prazeres | Fábio Borges | Filipa Faustino | Henrique Rodrigues | Jamily Oliveira | Leonor Pitadas | Margarida Domingos | Inês Monteiro | Matilde Silva | Rodrigo Sousa | Tiago Simão | Yaroslav Zhelieznyi
Lisboa, 1914 – Lisboa, 2010
A escultora Maria Barreira nasceu em Lisboa a 7 de dezembro de 1914.
Ingressou no curso de Pintura da Escola de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) em 1937, mas logo no primeiro ano descobre a sua vocação, transitando para o Curso Superior de Escultura, que abandona temporariamente para se dedicar à causa política, integrando o MUD e a Associação Feminina Portuguesa para a Paz. Como consequência da sua ação de resistência foi proibida de lecionar no ensino oficial durante 16 anos. Nesse período dedicou-se exclusivamente à produção artística.
“A formação em Escultura, que termina em 1949, e a atividade que logo inicia, conferem-lhe pouco depois um lugar singular no contexto da produção este género, bem como no campo da cerâmica, com a criação de peças de formas graciosas e tranquilas que exprimem toda a sua sensibilidade. Nas suas esculturas é recorrente a presença de mulheres (reflectindo o seu envolvimento em diversas acções de defesa dos direitos da Mulher), de maternidades, de nazarenas, de casais, do homem e da mulher, cujas feições manifestam, muitas vezes, representações de amor, de humanidade e fraternidade.” *
Participa com frequência em exposições, designadamente nas dez EGAP´s (1946 e 1956).
Em 1948 casou com o escultor Vasco Pereira da Conceição e em conjunto realizaram várias obras, quer no Atelier da Rua da Alegria, que partilharam com Alice Jorge e Júlio Pomar, quer no seu atelier da Quinta de Vila Flor, em Lisboa. Juntos, na companhia de Celestino Alves e João Hogan, vão para Paris como bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, onde têm oportunidade de visitar inúmeras galerias e exposições e contactar diretamente com a produção artística vigente, fator que contribui decisivamente para a sua formação.
Dedicou-se também ao desenho e ilustração, à cerâmica e à medalhística, mas é através da usa obra escultórica que ganha maior notoriedade. Concilia a sua atividade artística com o ensino, do qual se reforma em 1981, continuando a dedicar-se à produção artística quase até à data do seu falecimento, a 23 de dezembro de 2010.
Os espólios de Maria Barreira e de Vasco Pereira da Conceição foram doados ao concelho do Bombarral. O museu que acolhe as suas obras demoniza-se hoje Museu Municipal de Bombarral – Vasco P. da Conceição/Maria Barreira.
Está representada em diversas coleções e museus, entre eles o Museu do Neo-Realismo.
Fonte: sítio do Museu do Neo-realismo (https://www.museudoneorealismo.pt/pages/5484)
Outras fontes
Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Barreira
Fundação Calouste Gulbenkian: https://gulbenkian.pt/cam/artist/maria-barreira/
Referência a Maria Barreira enquanto esposa do artista Bombarralense Vasco Pereira da Conceição: Museu do Aljube
Notícia do falecimento da escultora (Correio do Minho): https://correiodominho.pt/noticias/arte-escultora-maria-barreira-faleceu-hoje-em-lisboa-aos-96-anos/40268
In: Arte teoria. - Lisboa, 2000. - Nº 11 (2008), p. 241-250. ISSN 1646-396X
Faculdade de Belas Artes
Paulo Simões Nunes, "Barreira, Maria" p. 80-82
in Dicionário de Escultura Portuguesa
dir. José Fernandes Pereira
Editorial Caminho, 2005
ISBN: 972-32-1723-8
Raquel Henriques da Silva, "Maria Barreira, escultora"
in Mulheres Escultoras em Portugal. p.108-123
Autoras: Sandra Leandro; Raquel Henriques da Silva
Editora Caleidoscópio, 2017
ISBN: 978-989-658-435-1
O que se disse na imprensa
Bombarral homenageia escultora Maria Barreira com mural (Jornal de Leiria)
Mural de homenagem a Maria Barreira foi inaugurado (Portal do Município)
Este trabalho foi concretizado pelos alunos do Curso de Artes Visuais do 12.º ano (2023/24), orientados pela Prof. Paula Rito. Foi desenvolvido no âmbito do Plano Nacional das Artes e do Plano Nacional de Leitura - "Movimento 14-20 a Ler", apoiado pelo pelo Município do Bombarral que é parceiro do projeto APALAVRARTES.