Estimular a criatividade e o imaginário a partir da leitura foi a proposta do Projeto “Apalavrartes”. O nosso desafio foi partir da palavra e ter como horizonte final a pintura de um Mural.
Numa primeira etapa, lemos alguns poemas de João Miguel Fernandes Jorge, autor que desconhecíamos. Escolhemos o poema – «A alegria, as coisas tão antigas» – e tentámos desenhar interpretações possíveis.
Na segunda etapa, partimos para o brainstorming, interligando os contributos individuais desenhados com o facto de a localização da parede ser ao lado do Teatro Eduardo Brazão.
A parede tem pouca área, apresenta 3 cantarias e sendo baixa, surgem sempre em fundo os prédios, o que cria condicionalismos na composição.
Decidimos jogar com o ritmo das cantarias mas fazer uma escolha contida de elementos visuais pois são sempre visíveis as edificações. Na escolha dos elementos visuais, atendemos ao facto de estarmos a intervir numa parede ao lado de um teatro, surgindo assim a permanência no tempo do som, imagem, movimento e ritmo
Na terceira etapa, a trabalhar in loco, desenhámos na parede em maior escala a composição coletiva final.
Na quarta e última etapa, o trabalho da cor, nos fundos, brincou com as janelas emparedadas mas pintadas em gradações de azul, os retângulos acrescentados e o ritmo das teclas de um piano imaginário. À medida que a pintura crescia semanalmente, fomos pensando e acrescentando as cores com o sentido de alegria e memória que por sermos novos se liga à infância à música e aos jogos.
Os alunos do 12º Ano de Artes Visuais.
Bombarral, Junho de 2022
Andreia Domingos | Daniela Monteiro | Joana Gradil | Leonardo Ciência | Lucas Roça | Mafalda Santos | Tomás Sequeira | Davi Silva
(Desenvolvimento do trabalho - brevemente disponível)
1943, Bombarral. Poeta, prosador e crítico artístico, licenciado em Filosofia, desenvolveu também a atividade docente. Estreia-se na poesia com o volume Sob Sobre Voz, onde joga, de forma inquietante, com a não referencialidade de uma palavra que se situa na contiguidade com o indizível. Ou seja, nas palavras de Joaquim Manuel Magalhães, a perturbação gerada na leitura da sua poesia decorre da nossa formação ocidental, pela qual se torna "difícil de abdicar de um real para o qual as palavras não apontem" ("alguns descobriram que dizer barco não é arrastar à palavra um barco ou dizer aos outros que um barco está ali, mas revelar um local onde um barco não está, onde a memória dele se tornou uma música de fonemas em que desaparece o barco e o homem descobre a solidão que é dizer barco sem um barco ser.
Este trabalho silencioso de captação da ausência percorre a obra de João Miguel Fernandes Jorge." (cf. MAGALHÃES, Joaquim Manuel - Os Dois Crepúsculos, Lisboa, A Regra do Jogo, 1981, pp. 224-225), ou, nas palavras do próprio autor: "O que me faz escrever este poema/não são as coisas: terra céu astros./A saber: estendo a mão: e/o mundo reconhece-a encontra a/memória onde repousa e se transforma./... Não sonho palavra sonho barco." ("Para outro texto", in Vinte e Nove Poemas, Lisboa, 1978). Confirmadas nos volumes que integram a sua Obra Poética, estas linhas de leitura remetem, segundo Fernando Guimarães, para um processo de "microrrealismo", pelo qual a "linguagem tende a testemunhar a evidência do conhecimento", ao mesmo tempo que as imagens ou metáforas se constituem como "núcleos de natureza conceptual": "João Miguel Fernandes Jorge parece fazer apelo à possibilidade de a linguagem se afastar de dois caminhos, o da metáfora e o da imagem, em que a poesia moderna tanto se fixou desde os finais do séc. XIX, privilegiando, antes, os caracteres apagadamente distintivos dos "sinais" ou, se se quiser, dos signos (...)", o poema fragmentando-se "através de múltiplas reminiscências, de uma linguagem desfocada, de uma disponibilidade subjetiva nem sempre previsível, de uma visão fluida da realidade e da natureza, de uma dispersão de significados às vezes percorridos por referências culturais ou de índole meramente circunstancial que, apesar de um descritivismo a que não raro se mantém fiel, se tornam dificilmente reconhecíveis. (...) A linguagem torna-se dispersiva, residual, e a consciência de que ela é inquestionável ou opaca a um possível significado" (GUIMARÃES, Fernando - A Poesia Portuguesa Contemporânea e o Fim da Modernidade, Lisboa, Caminho, 1989, pp. 113-114). A publicação de Crónica, em 1977, inaugura na sua bibliografia uma outra estratégia discursiva, que parte da colagem de textos e motivos históricos com acontecimentos reais e míticos e com conteúdos subjetivos.
Extraído de Wook (https://www.wook.pt/autor/joao-miguel-fernandes-jorge/12047)
Outras fontes
Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Miguel_Fernandes_Jorge
Infopédia: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$joao-miguel-fernandes-jorge
&Escritas.org: https://www.escritas.org/pt/bio/joao-miguel-fernandes-jorge
À Beira do Mar de Junho, Relógio d’Água, 3ª ed., 2019
[Integra o Catálogo PNL]
Este trabalho foi concretizado pelos alunos do Curso de Artes Visuais do 12.º ano (2021/22). Foi financiado pelo Plano Nacional de Leitura no âmbito do "Movimento 14-20 a Ler" e apoiado pelo pelo Município do Bombarral que é parceiro do projeto APALAVRARTES.
O poema foi utilizado com a autorização do respetivo autor.